Parte da entrevista dada por Sergio e Magali Leoto à revista “The Love School”, ao jornalista Marcos Stefano.
1) Há um senso comum de que o pior que pode acontecer a um casamento são as brigas. Vocês concordam com isso?
RESPOSTA: Alguns casais sejam eles jovens, adultos ou idosos, vivem brigando. Com ou sem motivo, as brigas acabam fazendo parte da rotina deles. Ninguém aguenta viver ao lado de pessoas que brigam a toda hora, sejam eles homens ou mulheres. Até a Bíblia alerta sobre isso: “É melhor morar no fundo do quintal, do que dentro de casa com uma mulher briguenta” (Provérbios 21:9).
Assim, é necessário muito empenho por um relacionamento saudável, com o mínimo de conflitos possível. É preciso “saber brigar” por suas idéias, mas em alto nível. Há situações em que é necessário discutir, conversar, chegar a um acordo e até recuar. Muitos desses momentos causam tensões.
Somos pessoas em constante transformação, pois aprendemos novas coisas todos os dias. Nossas expectativas e sentimentos mudam. Precisamos reprogramar, reequilibrar, corrigir ações, normas e limites, de acordo com o momento em que estamos vivendo no relacionamento. Conversar sobre as próprias ideias e as do outro; sobre si mesmo e sobre a relação a dois. Em alguns momentos, uma boa discussão, com clima favorável, amigável, com respeito, torna-se muito saudável para o ajuste do casal.
2) Quais são os principais fatores, acontecimentos ou circunstâncias que provocam brigas e podem levar a crises nos relacionamentos? Filhos, mudanças, emprego ou influência de parentes estão entre eles?
RESPOSTA: Há casais que arranjam qualquer motivo para discutir! Situações necessárias e importantes, mas também por pequenas bobagens. Isso dá um desgaste emocional desnecessário! Temos notícia de um casal que se desentendia por causa da posição do rolo de papel higienico: o marido queria que a folha caisse por cima do rolo e a esposa não se incomodava com isso. Outro casal discutia porque um deles sempre se esquecia de fechar a pasta de dente com a tampa. Assim, o casamento se tornará num tormento! Precisamos selecionar bem as brigas que devemos entrar! Devemos discutir aqueles assuntos que sejam vitais à família, como por exemplo:
– Valores éticos: se um conjuge, por exemplo, está querendo fazer algo questionável ou ilegal, vale a pena discutir, pois a ação de um deles poderá ter consequencias para toda a família;
– Valores morais: a suspeita de alguma infidelidade, a discordancia sobre o comportamento ou discurso de um dos conjuges, também é um motivo justificável para uma boa conversa;
– Criação de filhos: um conjuge considera importante dar limites às crianças e outro quer que eles não tenham a mesma repressão que seus pais lhe impuseram no passado. Esses pais precisam chegar a um acordo!
– ou outros assuntos, que o casal julgue serem extremamente importantes. Eles devem ser discutidos de forma madura, para que os conjuges cheguem a um acordo. Alguns problemas, no entanto, devem ser minimizados, deixados de lado ou relevados.
3) Vocês têm ou conhecem algum estudo ou levantamento sobre número de casamentos que acabam por conta dessas crises? Pelo que vocês têm visto em seu ministério e nas igrejas dá para apontar alguma porcentagem?
RESPOSTA: No Brasil quase não há publicação de estatísticas de pesquisas. Muitas ocorrem nas universidades e não temos acesso. Podemos dizer da nossa experiência: há 30 anos, temos trabalhado entre as famílias e nos últimos tempos temos percebido que as crises de relacionamentos têm se agravado cada vez mais. Sejam entre os cônjuges, pais e filhos, irmãos e irmãs, genros (ou noras) e sogras (ou sogros) e demais graus de parentescos. Além de outras esferas como: ambiente de trabalho, igreja, vizinhança, trânsito, torcidas fanáticas. Ou seja, o ser humano está intolerante e intratável.
Uma das áreas de nosso trabalho é ministrarmos cursos e palestras. A maior parte dos finais de semanas do ano, estamos em alguma cidade do país. Dentre os temas que mais desenvolvemos, está a “Resolução de conflitos”. O título de uma destas palestras é “Aprendendo a Brigar”. Chegamos à conclusão que precisávamos desenvolver esse assunto em um livro inteiro, a fim de dar nossa contribuição de uma maneira mais abrangente, para que as relações humanas se tornem mais “humanas”. Portanto, o título de nosso último livro é “Vivendo e Aprendendo a Brigar”, pela Editora Thomas Nelson Brasil.
4) Existe idade ou tempo de casamento em que as crises são mais frequentes?
RESPOSTA: São várias realidades. Existem casais, que por algum tempo, se mantém bem no relacionamento, mas ao passarem por uma dificuldade muito grande como, por exemplo, a perda de um filho, uma doença grave na família, problemas financeiros ou outro evento importante, entram em profunda crise. Desestabilizam-se por não conseguirem administrar a situação e não vão buscar ajuda externa, por parte de um conselheiro, um amigo, um pastor, um psicólogo. Nesses momentos tensos, alguém que está de fora, ou melhor ainda, quando é um amigo próximo, pode ser de grande ajuda nas mãos de Deus.
Alguns conjuges casam-se sem a maturidade adequada. Não é preciso ser nenhum “vidente” para perceber que acontecerão sérios problemas no casamento, quando desde o namoro existem conflitos e dificuldades de relacionamento.
Também pode acontecer, da pessoa trazer para o casamento seus conflitos que já existiam antes, por exemplo: sua dificuldade de enfrentar perdas, lidar com frustrações, ansiedade ou pressão. O resultado será que ao viver uma vida conjugal, não conseguirá enfrentar a realidade do dia a dia. Entrará em crise pessoal que afetará o casamento.
Existem os que também não estão preparados para enfrentar as fases de um casamento: a chegada do 1º. filho, ou do segundo, da adolescência dos filhos, do momento em que eles vão embora, que é a chamada fase do “ninho vazio”, ou o enfrentamento da terceira idade e a morte. Todas essas fases precisam ser encaradas, como um desenvolvimento natural da família, que devemos enfrentar com maturidade e de maneira equilibrada, mas nem sempre isso acontece de maneira favorável, trazendo crise à família.
Finalizando, “crises” fazem parte de nossa vida, como o próprio Jesus disse: “no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16:33). É preciso encará-las como oportunidades de crescimento e contar com a graça do Senhor para superá-las a cada dia.