Quem não tem ou nunca teve manias, que atire a primeira pedra…
Algumas pessoas não saem de casa sem verificar se todas as portas e janelas estão totalmente trancadas. Outras, não guardam os sapatos que acabaram de usar sem limpá-los antes de guardá-los. Ainda há os que guardam embalagens, jornais, revistas, tampinhas ou os que tem ideias de exatidão ou alinhamento de objetos como quadros, roupas, materiais em cima da mesa de escritório, ou produtos dentro de um armário…
Ter uma pequena mania aqui outra ali, até certo ponto não traz tantas complicações. Quase todo mundo as têm em menor ou maior grau. A dificuldade existe, quando tais atitudes interferem na vida da pessoa, trazendo limitações e prejuízos nos seus relacionamentos familiares, afetivos, sociais, no trabalho, na vida acadêmica. Enfim, perturba o indivíduo de uma maneira que o faz sofrer e também às pessoas com quem ele convive.
Quando tais manias chegam a um ponto em que se tornam incontroláveis e a um nível grave, trata-se de uma disfunção mental, denominada TOC: Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Alguns a interpretam como esquisitice e excentricidade. Mas quem tem o problema, por vezes sente-se envergonhado, acha que suas ideias e atitudes são tolas, ridículas e por isso tenta escondê-las. Isso impossibilita que parentes e amigos possam ajudar esta pessoa a sair dessa situação.
Nos dias atuais estima-se que 3% a 4% da população mundial sofre deste transtorno. Mas, bem poucos tem informação correta sobre o TOC, para poderem buscar ajuda. Hoje existem tratamentos com resultados bastante eficazes, fazendo com que a pessoa possa ter uma vida saudável e sem tantos prejuízos. Temos notícia de casamentos desfeitos, onde um dos cônjuges tinha o TOC em nível grave, mas por ser resistente, não admitiu ter o transtorno e nem mesmo buscar tratamento. O outro cônjuge chega a um limite, não aguenta mais o seu sofrimento e dos filhos e termina por optar pela separação.
Infelizmente, casos como estes continuam acontecendo. Por isso a informação é imprescindível para um melhor entendimento do problema. A busca de um tratamento correto, pode aliviar e reduzir o sofrimento da pessoa em si e das demais que convivem com ela.
O que diferencia uma pessoa com TOC?
A mídia tem dado destaque ao Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Há filmes, seriados de TV, reportagens, personagens de novelas, desenhos animados e depoimentos de pessoas famosas. Muitas vezes aparecem em tom de brincadeira e como algo engraçado, até mesmo bizarro. Mas de certa forma, contribuem para despertar em algumas pessoas, pelo menos a suspeita de que algo não vai bem.
A diferença entre alguém que não tem o TOC e de quem tem o transtorno, está na esfera quantitativa e não na qualitativa. Ou seja, o indivíduo afetado, tem um sofrimento mental maior que os demais. Ele pensa muito mais em situações desagradáveis e tem uma falta de controle em suas atitudes. Estas, tornam-se repetitivas para aliviar a tensão e a angústia que traz em suas percepções e pensamentos negativos. A pessoa acredita que suas ideias possam vir acontecer efetivamente na realidade. Assim, desencadeia comportamentos que se tornam rituais.
No estudo da Biologia, descobriu-se que nosso organismo possui um sistema que faz com que o indivíduo, ao cometer um erro, tenha uma sensação de grande desconforto. Há um processo químico e perceptivo que gera comportamentos e esquemas cognitivos que até nos possibilitam prever possíveis erros. Quem já não cometeu uma gafe e ficou todo vermelho e suado, querendo que ninguém o percebesse, mas seu corpo insistia em denunciá-lo?
A pessoa com TOC, tem um circuito detector de erros que funciona muito mais do que uma pessoa sem o transtorno. Ou seja, enquanto uma pessoa não afetada, pede desculpas pelo ocorrido e continua em frente, quem tem o TOC tende a não cessar sua atividade quando o erro é detectado e corrigido. Ela fica com a sensação de que algo ainda está errado, sente-se compelida a corrigir repetitivamente seus erros, sejam eles reais ou imaginários.
Todos nós precisamos tentar corrigir nossos erros e evitá-los. Mas o problema está na intensidade e frequência, pois é isto que caracteriza o transtorno. Quando há uma ruminação mental, gerando ideias e pensamentos repetitivos, estes causam muita ansiedade. Surgem então, comportamentos e atitudes compulsivas, que trazem um certo alívio momentâneo. Porém, o resultado é que gera grande sofrimento à pessoa, que entra num círculo vicioso que tende a cristalizar-se com o tempo. A pessoa não consegue parar com este jeito de ser.
Obsessões e Compulsões
As OBSESSÕES são os pensamentos repetitivos, que se tornam desagradáveis, indesejáveis, intrusivos e fazem a pessoa sentir uma pesada culpa por tê-los, além de provocar um intenso desconforto emocional na forma de ansiedade.
As COMPULSÕES, são os comportamentos e atitudes repetitivas que pelo menos no início, trazem uma certa sensação de alívio. As obsessões são pensamentos da própria pessoa que desencadeiam as compulsões.
Se você conhece alguém que toda hora verifica se os seus livros estão alinhados e mesmo após checá-los, continua ansiosa voltando a conferir outras vezes, e ainda tem a impressão que algo ruim possa lhe acontecer, se os livros não estiverem na posição correta, desconfie dessa pessoa… . Ela pode estar com pensamentos obsessivos, desenvolveu rituais que a fazem perder tempo com isso. Sua vida já pode estar prejudicada, atrasando-se em seus compromissos, comprometendo sua vida conjugal, social e seu trabalho.
Existe uma variedade de OBSESSÕES, na forma de apresentação do TOC, mas as pesquisas na pratica clínica, comprovam que há uma tendência das mais comuns, como salienta Ana Beatriz Barbosa, em seu livro “Mentes e Manias”:
Obsessão de agressão: preocupação em ferir os outros ou a si mesmo, seja por insultos ou impulsos de agredir.
Obsessão por contaminação: preocupação constante com sujeira, germes, contaminação por vírus e bactérias, pó, apertos de mão, medo de ser contaminado em locais que frequenta.
Obsessão de conteúdo sexual: pensamentos persistentes de fazer sexo com pessoas impróprias ou em situações estranhas, pensamentos obscenos, imagens pornográficas recorrentes.
Obsessão de armazenamento e poupança: ideia fixa em colecionar ou acumular objetos. Dificuldade de desfazer-se de qualquer coisa por achar que poderá ser útil no futuro (embalagens, papéis velhos, jornais, revistas, etc).
Obsessão de caráter religioso: pensamentos recorrentes com muitos escrúpulos sobre pecado, certo/errado, de falar obscenidades, pensar que tudo é o diabo, etc…
Obsessão de simetria: ideias constantes de exatidão ou alinhamento de objetos, roupas, decoração, etc. Há um incomodo de ver coisas desarrumadas e desalinhadas.
Obsessão somática: preocupação excessiva com doenças. Uma simples dor no peito, já começa a pensar em alguma cardiopatia.
Obsessão ligada a dúvidas: preocupação constante com o fato de não confiar em si mesmo, como não ter certeza se fez algo direito ou se realizou determinada tarefa (fechar a janela, desligar o gás, etc).
As COMPULSÕES são os rituais que acompanham os pensamentos obsessivos. Estes também são repetitivos. Os rituais, as compulsões e manias, quase sempre se assemelham com o grupo dos pensamentos obsessivos:
Compulsão de limpeza e lavagem: lavar as mãos em excesso, a ponto de irritar e ferir a pele, tomar banhos intermináveis, usar em excesso produtos de limpeza como álcool, água sanitária, detergente, entre outros.
Compulsão de ordenação e simetria: guardar ou arrumar determinados objetos sempre da mesma forma, na mesma posição, mantendo uma proporção ou simetria em relação a outros objetos. A pessoa consome muito tempo com isso e experimenta grande sofrimento caso não consiga realizá-lo ou dúvida de tê-lo feito perfeitamente.
Compulsão de verificação ou checagem: conferir inúmeras vezes janelas, portas, torneiras, botões de fogão, bicos de gás, se o ferro está desligado, se o despertador está programado para tocar na hora certa, se o filho já chegou em casa, está coberto durante à noite, etc.
Compulsão de contagem: contar até dez em ordem crescente ou decrescente, assim que o pensamento ruim venha à mente. Ou ainda, realizar uma ação, cinco, dez, vinte vezes, ou qualquer quantidade, que a pessoa julgue suficiente para aliviar-se.
Compulsão de colecionamento: guardar caixas, embalagens, jornais, vidros, agendas antigas, papéis e laços de presentes, etc. Ocupando espaços livres da casa ou de circulação, afetando o funcionamento da família.
Compulsões diversas: repetições de ações menos específicas, como ligar e desligar interruptor, entrar e sair pela mesma porta, sair do quarto e ir até a cozinha e voltar diversas vezes. Rezar ou orar por horas a fio, a fim de evitar que algo ruim ocorra, pensar em frases, palavras, números ou símbolos, para afastar as ideias desconfortáveis. Transformar superstições em atos repetitivos e obsessivos, como só vestir roupas de determinada cor, usar a mesma roupa em véspera de provas ou concursos, comprar carros da mesma cor, entre outros.
As pessoas com TOC, sofrem por ter seus pensamentos obsessivos e por executar ações para neutralizar seus medos e ansiedade. Isso lhes toma tempo, paciência e saúde. Além de relacionamentos difíceis e conturbados.
Causas e Tratamento
Ana Beatriz Barbosa, revela em seu livro que pesquisadores americanos concluíram que certas formas de TOC, tem sua origem em fatores genéticos. Os estudos sugerem que não existe um único gene responsável pelo transtorno e sim vários. Uns com maior, outros com menor influência.
O importante é que, independente da causa é preciso quebrar o círculo vicioso dos rituais. Atualmente, há uma combinação de medicamentos adequados e psicoterapia cognitivo-comportamental, que tem trazido ganhos e benefícios para o tratamento, que permite que a pessoa possa ter uma vida saudável, reduzindo de maneira eficaz o comportamento obsessivo-compulsivo.
A psicoterapia consiste em expor gradativamente o paciente, às situações geradoras de grande ansiedade. É necessário que os familiares e pessoas próximas também participem da implantação dos procedimentos terapêuticos, para o sucesso do tratamento.
É preciso agir com muita compreensão e paciência, com alguém que você convive e que tenha o TOC. É possível ter esperança, a ciência tem conseguido fazer com que a maioria dos pacientes funcione bem tanto no trabalho, bem como na vida social e afetiva.
O TOC basicamente está fundamentado na ansiedade. É importante considerarmos que temos um Deus em quem podemos confiar e que nos ajuda em nossas aflições, sejam elas quais forem. Portanto, busque ajuda profissional, peça orientação a Deus, a fim de que Ele abra as portas para encontrar tratamento adequado e pessoas idôneas que possam dar um bom encaminhamento para o indivíduo com o Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Recomendo também a leitura do livro “Mentes e Manias”, de Ana Beatriz Barbosa da Silva, Editora Objetiva, RJ, para uma pesquisa mais ampliada e conhecimento de serviços de utilidade pública para atendimento à pessoa com TOC e seus familiares.
Autora: Magali A. Henriques Leoto – Psicóloga e escritora.
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